quinta-feira, 12 de maio de 2011

Des(culpa), por Gica Trierweiler Yabu.

Eu não sou um bom lugar, mas faltou paciência para explicar isso a ela. Aqueles olhinhos meigos brilhariam e ela diria que eu sou o melhor do mundo por uma série de motivos rasos. Eu tentaria dissuadi-la, ela me interromperia com seus beijos açucarados e logo estaríamos os dois sem roupa: eu, culpado, ela satisfeita. Eu poderia dizer que nos últimos três meses de namoro tinha feito mais sexo que ela, mas faltou indelicadeza para tocar no assunto. Aqueles olhinhos meigos despencariam, mas, cinco minutos depois quase naufragada em lágrimas, ela me perdoaria. Eu, esse ser que já não acredita muito em romance com espírito escolar, aproveitei uma falha do pequeno guaxinim para passar a régua na relação fadada ao silêncio. Um dia ela atravessou a rua sem olhar para os lados e peguei carona na deixa dessa falha. Foi ali mesmo, plantado na calçada, com a culpa, bendita culpa, me mordendo o calcanhar. Tchau, pequena. Um dia você cresce e vê que eu não sou um bom lugar.

Amanheceu, por Gica Trierweiler Yabu.

Bem feito: acordei primeiro. O sol vinha vindo e eu já esperava atrás da porta: surpresa. Raios multicoloridos tocaram a campainha e, bem feito, não me acordaram porque eu já estava lá. Acho que de agora em diante vou fazer isso pra sempre e nunca mais um nascer do sol vai me apanhar de sopetão. Nunca mais é pesado porque é pro resto da vida e não dá pra voltar atrás do nunca mais nunca mais, eu sei, mas tudo bem. Agora que já se espreguiçou, o sol ficou ali pendurado no céu, lustre grande e redondo sem botão de liga e desliga. Lustre custa caro, pode perguntar pra qualquer um, ainda mais se tiver cristal. Nesse caso não tem: é só o sol, mesmo.