quinta-feira, 12 de maio de 2011

Des(culpa), por Gica Trierweiler Yabu.

Eu não sou um bom lugar, mas faltou paciência para explicar isso a ela. Aqueles olhinhos meigos brilhariam e ela diria que eu sou o melhor do mundo por uma série de motivos rasos. Eu tentaria dissuadi-la, ela me interromperia com seus beijos açucarados e logo estaríamos os dois sem roupa: eu, culpado, ela satisfeita. Eu poderia dizer que nos últimos três meses de namoro tinha feito mais sexo que ela, mas faltou indelicadeza para tocar no assunto. Aqueles olhinhos meigos despencariam, mas, cinco minutos depois quase naufragada em lágrimas, ela me perdoaria. Eu, esse ser que já não acredita muito em romance com espírito escolar, aproveitei uma falha do pequeno guaxinim para passar a régua na relação fadada ao silêncio. Um dia ela atravessou a rua sem olhar para os lados e peguei carona na deixa dessa falha. Foi ali mesmo, plantado na calçada, com a culpa, bendita culpa, me mordendo o calcanhar. Tchau, pequena. Um dia você cresce e vê que eu não sou um bom lugar.

Amanheceu, por Gica Trierweiler Yabu.

Bem feito: acordei primeiro. O sol vinha vindo e eu já esperava atrás da porta: surpresa. Raios multicoloridos tocaram a campainha e, bem feito, não me acordaram porque eu já estava lá. Acho que de agora em diante vou fazer isso pra sempre e nunca mais um nascer do sol vai me apanhar de sopetão. Nunca mais é pesado porque é pro resto da vida e não dá pra voltar atrás do nunca mais nunca mais, eu sei, mas tudo bem. Agora que já se espreguiçou, o sol ficou ali pendurado no céu, lustre grande e redondo sem botão de liga e desliga. Lustre custa caro, pode perguntar pra qualquer um, ainda mais se tiver cristal. Nesse caso não tem: é só o sol, mesmo.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ocupado - Favor perturbar, por André Gravatá.

Obra em formato de site. Clique na imagem para acessar.


A Esfinge do Saber, por Sylvia Beatrix.

Uma vez aqui não há mais saída. De aula em aula, frases, textos e palavras monitoradas pelo relógio e apresentadas por ela e absorvidas por todos. Ao final, temos à nossa frente um caminho a escolher. Caminhos são escolhas e cada escolha significa que estamos descartando algo. A obviedade nunca está lá presente, só nesta última frase. O que fazer? O que fazer? O que fazer!!!??? Só há uma entrada e uma saída para possibilidades diversas de caminhos a serem percorridos. Porém, um único poderá levá-lo ao êxito.

Poesia fica de fora, o que vale é a prosa. Prosa, é aquele jeito gostoso de falar, ao pé do fogão com café feito na hora, sendo acompanhado de pão de queijo. Coisa de mineiro, baiano, gaúcho ou, prá ser mais simples, coisa de brasileiro. Jeito de contar história, falar de amor, de ódio ou de quando nada está acontecendo. Isso também vale – e rende muito assunto, prosa prá mais de metro!
complicômetro surge quando, no meu caso, sendo mulher e cheia de botões mentais, fico sem conseguir me decidir qual deles apertar, qual caminho seguir e por onde andar. É uma mistura de Minotauro com Esfinge – se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.
A única certeza, é que uma vez aqui não há mais saída.


Ariadne e Teseu, que amor infinito, por Gica Trierweiler Yabu.

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Blog da Gigi - Último post, por Marilei Zanini

Pôr-do-sol: quantas dimensões no labirinto?



Meus dois bisnetos passaram a tarde comigo conjecturando sobre a notícia que lemos no jornal; quase meia página para um assunto tratado durante toda a minha vida como ficção: “Chegue como chegar, a primeira evidência definitiva de vida extraterrestre marcará um ponto de virada em nossa história intelectual, rivalizada apenas, talvez, pela teoria heliocêntrica de Copérnico ou a teoria da evolução de Darwin”. Os cientistas acreditam que um anúncio desses será feito em no máximo uma década! (Não dá para saber se ainda estarei aqui para ver, mas ganhar mais 10 anos seria a glória! Ao ritmo de um por semana, eu poderia ler mais 520 livros!) O mais velho acha que é tempo demais para esperar, diz que esse negócio de mais cedo ou mais tarde é pura jogada de marketing. Ele tem certeza que os caras já sabem de tudo e que daqui a dez anos a vida extraterrestre será apenas uma ex-novidade – que, inclusive, ele pretende twitar mais ou menos assim: “ih, f...! olha só quem acabou de chegar!” E quando eu suspirei désolé em voz alta, o mais novo perguntou aflito: “o que foi, bisa?, tá sentindo alguma dor?”

Dúvidas de Labirinto, por Isabela Quintella.

Descarto lugares onde exista o fracasso dos iguais.
O imperfeito eu não quero,mas será que extrair a miséria feia é tirar da luz a
escuridão? Não sei. E os deuses de que lado ficam? Pergunto com os dedos
aos meridianos e paralelos, rede que nos separa do infinito, se encontrarei
respostas na esfera que gira. Na varanda a tulipa vira o amarelo da noite
negra.
A flor amarela e efêmera se iguala a mim em existência, mas quem lida
melhor com o tempo ela ou eu?Pensamentos distantes a tornam uma gota
âmbar para a visão“-Vê,Jeová como me tornei desprezível”,a frase sai do
livro que esta na cabeceira e cai na boca da flor.Desprezível ?É assim que a
tulipa amarela se comporta quando põe no lugar do espelho o relógio.E eu
como reagirei ao tempo?E os Deuses de que lado ficarão ...Do meu ou dos
séculos?
Sem roteiro a pergunta adentra vagarosamente a brancura da alma,alvejando,
embranquecendo, via Láctea e a dúvida em nanquim se espalha em meia noite
interpretando a perplexidade.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Nove Veiz Fora, por Adriana Rossatti.

Vai. Vai. Vai. Num reclama. Num respira. Tu tem músculo rapá. Tu tem músculo. Larga a mão de se olhar no espelho, rapá. Tá bunito. Tá bunito. Vou seguir pela entrada norte. Se tiver muito escuro, já boto um pente. Respirô, BANG. Vai pipoco. Mira a testa. Mira as idéia. BANG. Num tem que pensar, rapá. BANG. BANG. BANG. Se for pensar não faz. Quem pensa não faiz. Tu é homem que faiz. Resolve essa merda. Moraliza a parada. Bota respeito. Bota respeito. Se liga, rapá. Só no respeito. Ai, porfavor, porfavor... Porfavor teu cú. BANG. Três porta na frente, ou vira a direita e segue pelo corredor. Fica esperto que o cuturno faz barulho. Piso liso do cacete. Só no rastro vermelho e preto. Fica esperto, rapá. Num pisca. BANG. CALA A BOCA! Num pisca. BANG. Se liga nos gambé. Shhhh. QAP. QAP... envolvia uma mente muito perturbada... Olha os cara, rapá! Olha a entonação no MUITO perturbada. HAHAHAHA. Não sabem nada. Não sabem nada. BANG. Conta as bala. Tem quanto ainda de vida? Foi um de cara na entrada norte, três na escada, três no banheiro. Dois seguindo o corredor. Nove veiz fora. Foi. Bota o pente. Respira. Guarda a saída, rapá. Guarda a saída. Vira a esquerda, duas portas, sobe. BANG. BANG. Errei. BANG. Vai escapar. Vai escapar. BANG. Filhadaputa. BANG. Só pra largar a mão de ser espertinho. Quase o pente todo, viado. VIADO. Foi 5, de nove. Falta 4. Nove veiz fora. Vai. Segue a tubulação. Segue os gambé. QAP... QAP... Uma experiência desagradável. Nesse caso horrível... Num vai vazar um. Num vai vazar um. BANG. Porra de luz. Vai no escuro. Vai no escuro. BANG. BANG. BANG. UHUUU! Night vision, rapá. Tu é coruja. Tu é corujão. Bota o pente. BANG. BANG. Ui, nu olho. BANG. Filhadaputa, corre. Corre que é mais legal. BANG. BANG. Quero gritá, quero gritá. BANG. AHHHHHH! BANG. Já foi. Já passei aqui. Merda. Já passei aqui. Volta no escuro. Tu é coruja rapá. BANG. Vai espirrá na mãe, seu porra. BANG. Pente. Cadê o pente? Putaqueopariu. Cadê o pente? Caralho. O pente. O pente. Volta na porta. Volta na escada. Cadê a escada? Pente. Sumiu os pente. Merda. Último pente de merda. Último pente de merda. AHHHHHHHHHHH! BANG. BANG. BANG.BANG.BANG. Sujô. BANG. Foge. Foge, rapá. Corre que tu faiz. BANG. Se liga a porta. Vai dar nos cara. BANG. Olha a luz. Olha a luz. Sujô. Sujô rapá. BANG. Vai que é tu. Vai. Vai. Vai. Quem te pipoca é tu. Quanto foi no pente? Teve a curva. Teve o... Teve o no armário. Cinco no ar. Cinco? Quanto foi? Onde? Caralho, rapá. O pipoco é teu. O último pipoco é teu. Vai. Arma. Nove veiz fora... CLIC.

O Horror tem uma face, por Elza Tamas.

E ai gordinho? Eu não vou matar você não, pode parar de tremer, eu já disse eu não vou matar você, porra!  Diz aí, quem você quer que eu mate? Conta ai quem foi que ficou te zuando te chamando de porcão, de rolha de poço?   Fala aí, gordinho! Não! não pode cobrir o rosto, nem com mascara, nem com camisa, tá no regulamento, quero ver a tua cara, fofão. Deixa eu ser a sua justiça, mostra com o dedo, ah! foi este magrelinho branquelo aqui?, bala nele, pronto, outro anjinho. E este aqui com cara de riquinho?, morre babaca!, mais alguém?, mostra ai! Aqui xará, 1+1+1+1=190.000.000 de espectadores, você vai ver, todo mundo vai saber de você. Vai sair no jornal, na televisão.  Vai vomitar? Cagão. Outro Wellington. Já foram uns 13, faltam 23, meu número de sorte. 13+23=36,  noves fora ,zero. Só saio daqui morto. Minha vida é matemática. Por que será que meu pai nunca me disse para não coçar o saco?Por que será que ele nunca me ensinou a escovar o dente com aquela espuma leitosa? Por que será que ele me criou para viver feito bicho? E isto aí, Wellington. Como não?  Wellington sim, xará.  Você é Wellington também. Tá cheio de Wellington no mundo.  Daqui a dez anos você é que vai estar aqui no meu lugar. Deste labirinto xará, não tem saída.

Por que será que meu pai nunca me disse para não coçar o saco?Por que será que ele nunca me ensinou a escovar o dente com aquela espuma leitosa? Por que será que ele me criou para viver feito bicho?                                                              
O Tigre Branco  - Aravind Adiga

Não pode cobrir o rosto, nem com mascara, nem com camisa, tá no regulamento
Globo esporte sobre o caso Neimar

O Fantasma de Alice, por Regina Datti.

A decolagem sempre é uma incógnita para Alice. Quem sofre de labirintite sabe do que eu estou falando. Alice não desce mais do avião parecendo um pião descontrolado. Mas desta vez , acho , não dosou o remédio direito e girava…girava…girava...  Pena não conseguir registrar as plurais expressões de comissários, atendentes e passageiros circulantes. Sentada, no sofá de couro branco, observava o tabuleiro de alumínio com esferas de aço. Impossível, para uma labirintota como ela, não achar uma provocação um jogo de labirinto, assim, espiando displicente. O Labirinto de Creta, jogo, tem como objetivo levar as cinco esferas para o círculo central. O objetivo de Alice era parar de rodar. "Os conceitos associados ao jogo são: desafio, equilíbrio, logística, meta, planejamento, … e união." O maior desafio de Alice era aquietar. "A origem dos chamados jogos de tabuleiros perde-se na noite dos tempos." A labirintite de Alice também. Gaston Leroux escreveu em 1910 O Fantasma da Ópera. Foi depois de visitar a Ópera de Paris, conhecer seu lago subterrâneo, e quase se perder no seu labirinto de portas e escadas. Muitos palcos e telas depois ainda nos perdermos nesse subterrâneo teatro, na busca de Raoul por Christine e nos Fantasmas que nos acompanham. Na versão de 2004 Gerard Butler eterniza suspiros de Alice. “Para acabar com esse romance” reverbera. Imperadores, reis, dinastias, seus mitos e lendas. A Cidade Proibida com seus 605 anos (2011 menos 1406) e suas incontáveis galerias (“…cujos rumores sempre apontam a existência de 9.999 divisões…”) formam um dos mais belos labirintos já construídos. Perdidos e achados. Quem entra sai? Labirinto cheio de significados … O mundo e os seus … Favelas, vielas … Alice continua no sofá, parou de girar … mas os labirintos inquietos de seu cérebro não dão trégua. Nem os literários: a Casa de Espelho , os jardins da Rainha de Copas ,  mas é a voz estridente anunciando chegadas e partidas que materializa o Coelho Branco. “ Na página seguinte, havia mais um trecho destacado: Certa manhã, quando ele voltava, contornando a muralha, viu, numa das ameias, um Pombo bem grande refestelado ao sol. Julião parou para olhá-los, como havia uma brecha naquele ponto, os seus dedos tocaram uma pedra solta. Moveu o braço e a pedra foi abater o pássaro, que despencou no fosso. ” O que abateu Alice foi a labirintite. "Um labirinto é constituído por um conjunto de percursos intrincados criados para desorientar quem os percorre.  Labirintite é uma desordem do equilíbrio do corpo humano. Os sintomas mais comuns são a tontura e a vertigem." Metafórica e literalmente Alice estava desorientada . Não seria uma viagem fácil. Distrai com o vertiginoso movimento do aeroporto. Duas malas vermelhas + quatro camufladas + duzentas pretas = fila na esteira. Mais do que a vida ter percursos intrincados, são os labirintos da alma, das palavras e do novo Mac, que a intrigam . Alice está exaurida.


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As informações sobre o jogo Labririnto de Creta são fornecidas pelo fabricante.

Para acabar com esse romance é a chamada do Cordel Encantado, a próxima novela das seis.

“ Na página seguinte, havia mais um trecho destacado: Certa manhã, quando ele voltava, contornando a muralha, viu, numa das ameias, um Pombo bem grande refestelado ao sol. Julião parou para olhá-los, como havia uma brecha naquele ponto, os seus dedos tocaram uma pedra solta. Moveu o braço e a pedra foi abater o pássaro, que despencou no fosso.” Foi retirado do livro Beatriz e Virgílio de Yann Martel, página 33.


Da Wikipedia sairam datas e as informações sobre o Fantasma da Ópera, a Cidade Proibida, Labirintite, Labirinto e Começe pelo começo, siga até chegar ao fim e então, pare. Lewis Carroll , Alice no País das Maravilhas

Wake-up to reality, por Décio Crisol Donha.

Obra em pdf. Clique aqui para baixar.

Novelo, por Elidia Novaes.

Pela Nhambiquaras, acho que vai mais livre do que pela Ibirapuera Xi, essa aqui é contramão Tsc, não era hora pra ter conserto e caminhão parado Não tem guarda, vou entrar devagarzinho Vai, seu molenga Tá procurando vaga bem na minha frente Anda logo, está tudo lotado Pela direita, acho que eu chego lá Pô, desculpa, não deu pra desconfiar que foi sem querer, cacete? Oh, seu guarda, se eu for por aqui, ei, seu guarda... Ei Bem, talvez um pouco de som ajude *Dicas para ser feliz** Seja ético Estude sempre e muito Acredite sempre no amor Seja grato a quem participa nas suas conquistas Eleve suas expectativas Não tem jeito, vou chegar tardíssimo Eu ligo e aviso que estou presa no trânsito Eles vão entender Cidade grande é assim mesmo Se não entenderem, eu levo umas flores... ou um bolo Também posso dar uma desculpa, tia doente sempre ajuda nessas horas Cresce e fala a verdade Saí atrasada porque estava acertando a sobrancelha Melhor mentir Curta muito a sua companhia O que a senhora disse? Largo Treze? Não, não sei chegar lá, sinto muito Tenha metas claras Ai, essa letra não sai da minha cabeça e eu não lembro a melodia *Tell me how does God choose? Which prayers does He refuse? *** Nã nã nã Não La La La Oh, caramba Cuide bem do seu corpo É, olha o que eu ganho por acertar as sobrancelhas Nã nã nã Droga De que adianta GPS se eu não saio do lugar Declare o seu amor Amplie seus relacionamentos profissionais Seja simples Esquerda ou direita? Rápido Por aqui... parado também Moço, me dá uma água por favor Moço, ei Pensando bem, me vê duas Quanto é? Uma por 2,25 e duas por 5,50? Como assim, foi o Sérgio Naya quem te ensinou cálculo, fala sério Nã nã nã Ai, some Tô mais perdida que surdo em bingo E atrasada Ai, se eu perco essa conta Por falar em conta, por que eu fiquei só com 15 reais se a água custou 4,50? Não imite o modelo masculino do sucesso Tenha um orientador Liberte-se do vício da preocupação O amor é um jogo cooperativo Do que esse cara tá falando? Se eu me livrar do vício, não vou poder jogar o jogo do amor Vou usar essa na reunião Um pouco de humor sempre agrega Tenha amigos vencedores Diga adeus a quem não o(a) merece Resolva! Aceite o ritmo do amor Meu, do que que esse cara tá falando? Não, guri, não tenho trocado Não, nem 10 centavos E não sou da sua família Celebre as vitórias Se eu conseguir escapar deste engarrafamento, já me dou por vencedora Nã nã nã Caramba Perdoe! Só se for o autor deste troço Arrisque! É, olha a multa que vou ganhar por ter entrado naquela contramão Tenha uma vida espiritual Muita paz, harmonia e amor Cara, eu vou desligar esta joça, antes que ele diga que se não der certo é porque eu não tentei o suficiente Tentar o rádio *A mãe biológica dele seria portadora de esquizofrenia e somente alguém com uma séria patologia mental cometeria crimes com tal crueldade**** Logo cedo?  Melhor não Este outro CD, talvez Poesia?! Não tem música neste carro? *Cada vez mais para dentro Mais sem saída Mais sem ar Mais úmido Eu te cuspo Te sujo Te uso Te escuro Te acuo Te esgano Te estupro Te esmago Te prendo Te proíbo Te oprimo Te obrigo Te agrido Te aperto Te anulo Trapaceio Te desprezo Te ignoro Te destrato E só assim te atinjo Não me fascino* *E não me satisfaço**** *Aaaaahhhh Chega de barulho E isto aqui? *Eu pensava que a palavra tem que servir.. Uma vez eu disse que destruiria minha pena no instante em que a percebesse gratuita, liberta de intenção de servir alguma causa ou alguém... Devia ter quebrado minha pena várias vezes...****** Nã nã nã

* Dicas para ser Feliz http://clubdovendedor.com.br/2011/02/11/shinyashiki-dicas-para-ser-fe...
** Verso da música “Day after tomorrow”, do glorioso Tom Waits. http://www.tomwaits.com/songs/song/260/Day_After_Tomorrow/
*** Frase extraída do Jornal da Globo de 8 de abril de 2011
**** poesia péssima que eu mesma escrevi de propósito
*****Citação de Mario de Andrade

Conto bifurcado, por Ananda.

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Fio de Ariadne, por Cristiane Gomes.

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Labirinto – O Último Ano em Marienbad, por Eva Lazar.

quartos quietos,
onde os passos afundam...
em tapetes tão espessos, tão pesados...
que nenhum som encontra ouvido,
como se o próprio ouvido ao mover estivesse se entremeando
novamente nos longos corredores,
percorrendo esses salões e galerias,
neste edifício de uma era que era...
molduras esculpidas, fileiras de batentes,
galerias, mais corredores paralelos,
que por sua vez conduzem a salões vazios
carregados com a ornamentação de uma era que era,
quartos quietos,
onde os passos afundam
em tapetes tão espessos, tão pesados,
que nenhum som encontra um ouvido,
como se o mesmo ouvido...
... lajes
sobre as quais mais uma vez caminhei,
nos longos corredores,
percorrendo esses salões e galerias,
neste edifício de uma era que era,
se alastrando, suntuoso, sinuoso, sombrio hotel,
onde um corredor infinito se encaixa em outro,
silenciosos e desertos,
pesados com madeiras entalhadas e enregeladas,
estuque, painéis de gesso sinuosos,
mármore, espelhos negros,
fotos escuras de gente, colunas,
molduras esculpidos, fileiras de batentes,
galerias, mais corredores paralelos,
que por sua vez conduzem a salões vazios,
salões vazios carregados com a ornamentação de uma era que era...
... fotos escuras de gente, colunas,
molduras esculpidos, fileiras de batentes,
galerias, corredores paralelos,
que por sua vez carregam a salões vazios
salões pesados carregados com a ornamentação de uma era que era...
salões quietos onde os passos afundam
por tapetes tão espessos, tão pesados,
que nenhum som encontra ouvido,
como se o ouvido estivesse muito longe,
longe do chão, do tapete,
longe deste cenário pesado e vazio,
longe desta frisa complicada
correndo bem rente ao teto,
com seus galhos e guirlandas,
como folhas antigas,
como se o chão ainda fosse areia ou cascalho
ou então lajes,
sobre as quais eu andei novamente
como se fosse na sua procura,
entre estas paredes recobertas de tramas de madeira,
estuque, painéis de gesso sinuosos, pinturas,
impressos emoldurados pelos quais passei,
entre as quais mesmo naquele momento
eu estava esperando por você,
longe deste cenário no qual agora me encontro
parado frente a você,
esperando pelo homem
que não virá agora,
que provavelmente não virá agora
para nos separar mais uma vez,
para te rasgar de mim.
Você virá?

labirinto from eval on Vimeo.

Labirinto, por Eduardo Muylaert.

Clique na imagem para acessar a obra.

O Labirinto, por Luciana Gerbovic.

Três da manhã e os olhos de Celina ainda estavam abertos. Ao seu lado, uma respiração leve e compassada indicava que o marido dormia o sono que deveria ser dela, Celina. Olhou para ele, após dez anos na mesma cama, e teve gana de sufocá-lo com o travesseiro de penas de ganso. Ele não conseguia dormir sem esse animal morto envolto em algodão egípcio. Levantou e foi até a cozinha. Nada lhe apeteceu na geladeira. Esquentou um pouco de água no microondas, o suficiente para mergulhar um saquinho de chá de camomila vencido. Caminhou até a sala, não conseguiu sentar no sofá, ligou a TV em pé mesmo, “vamos conversar sobre o assunto com o professor de economia da PUC de São Paulo”, abriu um livro, “toda noite, faz uma semana, meu vizinho de quarto vem lutar comigo”. Antes que arremessasse a xícara contra a parede, foi para o banheiro. Queria vomitar, tirar do estômago os insetos que a infestavam. “Dez vezes trezentos e sessenta e cinco, dez vezes trezentos e sessenta e cinco”. Escreveu o resultado com batom no espelho, apagando-o em seguida com as mãos pálidas suadas. Sentou no chão úmido, machucou os calcanhares de tanto chutar os azulejos, as mãos pálidas suadas e sujas de batom tentavam arrancar seus cabelos. Sentiu dor. Voltou para o quarto segurando as lágrimas dentro dos olhos. O marido estava na mesma posição. “Três mil seiscentos e cinqüenta dias vezes vinte e quatro horas, três mil seiscentos e cinqüenta vezes vinte e quatro, três mil seiscentos e cin...”. Voltou para a cozinha, tomou um copo de água gelada, acendeu a luz, apagou, acendeu de novo, olhou pro relógio, quase cinco horas. Da janela da sala viu um vizinho saindo para a ginástica, arrancou as cutículas das unhas dos pés sentada sobre o tapete que trouxe da casa da mãe quando casou. A luz do dia começou a invadir o apartamento. Foi para o banheiro, ignorou o espelho e entrou debaixo do chuveiro. Mais uma hora e já poderia sair para o trabalho.

O Labirinto da Solidão, por Alcino Bastos.

Antes estamos no centro do universo. O tempo é só presente, passado e futuro. É um tempo só.
Depois somos arremessados na vida. A vida é o labirinto. Tentamos achar o caminho de volta.
Aqui no labirinto temos a sequencia de 24 vezes 60 minutos que chamamos de dia. E outras contas precisam ser feitas a todo instante.
Percorremos gemendo e chorando os vales de lagrimas, os desertos que nos secam a alma e os subterrâneos do labirinto.
Tentamos de qualquer modo quebrar o tempo cronométrico, esta sucessão homogênea que transcorre sem qualquer sentido. A vida é breve como um pensamento: uma cerca dura três anos, um cachorro três cercas, um cavalo três cachorros e um homem três cavalos.  
“Ao sair do edifício, o inesperado me tomou”.
Sonhando de olhos abertos vislumbramos o sinuoso pesadelo da vida, o labirinto que nos tonteia e nos carrega para a solidão.
- “Deve sentir saudade de sua família. Como pode ficar longe deles?”
- “Ser soldado é a única coisa que sei fazer”.

Nota: a frase foi tirada da crônica “Mal estar de um Anjo” de Clarice Lispector. O dialogo é do filme “Vingança no Coração”.
“O Labirinto da Solidão” é de Octavio Paz.

Ana Ama Guta, por Ligia Sommers.