quarta-feira, 13 de abril de 2011

Blog da Gigi - Último post, por Marilei Zanini

Pôr-do-sol: quantas dimensões no labirinto?



Meus dois bisnetos passaram a tarde comigo conjecturando sobre a notícia que lemos no jornal; quase meia página para um assunto tratado durante toda a minha vida como ficção: “Chegue como chegar, a primeira evidência definitiva de vida extraterrestre marcará um ponto de virada em nossa história intelectual, rivalizada apenas, talvez, pela teoria heliocêntrica de Copérnico ou a teoria da evolução de Darwin”. Os cientistas acreditam que um anúncio desses será feito em no máximo uma década! (Não dá para saber se ainda estarei aqui para ver, mas ganhar mais 10 anos seria a glória! Ao ritmo de um por semana, eu poderia ler mais 520 livros!) O mais velho acha que é tempo demais para esperar, diz que esse negócio de mais cedo ou mais tarde é pura jogada de marketing. Ele tem certeza que os caras já sabem de tudo e que daqui a dez anos a vida extraterrestre será apenas uma ex-novidade – que, inclusive, ele pretende twitar mais ou menos assim: “ih, f...! olha só quem acabou de chegar!” E quando eu suspirei désolé em voz alta, o mais novo perguntou aflito: “o que foi, bisa?, tá sentindo alguma dor?”



Apenas um pouco de preguiça, eu acho... Mal comecei na blogosfera e descobri que já está em desuso. Quer conversar, fazer amigos, ser ouvida? Use o twiter: 140 caracteres por minuto, 24 horas por dia, todos os dias da semana, até nas férias! É só do que se fala hoje em dia, twiter pra cá, twiter pra lá, mas acho que o pessoal está se iludindo com esse microblog a jato porque para ter prazer de verdade com a escrita não basta se apaixonar por meia dúzia de palavras; antes é preciso namorar um bom tempo com elas para só então pensar em casamento. A prática generalizada do ficar, até na maneira de escrever, está deixando a vida muito fútil, na minha modesta opinião... 

“Nossa memória está sofrendo de Alzheimer”, diz a escritora argentina Beatriz Sarlo (na revista Serrote nº 7) ao analisar o efeito nocivo das redes sociais emergentes sobre o conhecimento humano. O argumento é perfeito: na ânsia de participar de tudo, a presença on line significa liquidar o tempo a troco de nada. Puro desperdício! É como me sinto depois de meio século atuando como professora de História. Nunca desisti de ensinar aos alunos sobre a necessidade de valorizar nossa herança intelectual, mas parece que preguei no deserto. Eu mesma não faço idéia de como sair deste labirinto. Se você tiver alguma pista, me envie um email, como nos velhos tempos...




Anoitece: o jogo de sombras impõe uma dose ainda maior de beleza ao mistério.
Esperando o sono chegar, Gigi lê agora o livro começado ontem, cuja leitura havia
interrompido neste ponto:

”De um lado o autor quer ter sua palavra, quer ser dono de um estilo pessoal; de outro, a narrativa se volta para os personagens e para a maneira deles de falar. O dilema aumenta na narração em primeira pessoa, que em geral é uma trapaça e tanto; o narrador finge falar para nós enquanto de fato é o autor quem nos escreve, e aceitamos a farsa alegremente” (argumento nº 22 de James Wood em “Como funciona a ficção”).

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